sábado, 8 de março de 2008

Uma questão de perspectiva

Também eu quero aceitar a proposta da Canuda e partilhar algumas experiências positivas.
Mas porquê só agora? O repto já foi lançado à algum tempo...
De facto. Mas o tempo de que dispomos para cada tarefa é limitado. Principalmente em algo como o pensamento livre e os caracteres sem limite ;)
É preciso tempo! Será este o ócio a que um outro artigo deste mesmo espaço se refere? Tempo para pensar? Reflectir? Amadurecer ideias? Olhar para dentro? Provavelmente. Cada um que tire as suas conclusões.
Ainda assim, voltando às experiências positivas, gostaria de partilhar algumas de hoje, iguais às de um dia qualquer, como tantos outros, sem nada de transcendente ou extraordinário. Sim! O dia de hoje foi uma experiência positiva. Porquê? Simples:
1º - Acordei, sem qualquer dor, sem sofrimento físico nem psicológico.
2º - Tomei pequeno almoço, almoço, lanche e jantar e tudo estava óptimo (fui eu que fiz).
3º - Cumpri com parte do meu trabalho e algumas tarefas, simples mas essenciais (ir ao supermercado, ir buscar o filho à escola, enfim,... coisas de rotina).
4º - Passei algum tempo com o meu filho, convivemos e partilhamos amor e carinho.
Portanto, hoje foi um dia extraordinário em que nada de excepcional aconteceu.
Acredito que a maioria das pessoas teve um dia igual ao meu, no entanto, não tiveram a capacidade de o encarar como uma experiência positiva. Porquê?
1º - Acordaram, olharam para o relógio e viram que já estavam atrasados. Começaram logo a "stressar". Eu não posso dizer que tenha acordado a horas.
2º - Comeram e beberam, sem reparar no que estavam a fazer ou obcecados com as calorias. A minha alimentação não primou pela qualidade, mas procurei encontrar o compromisso entre o "agradável" e o "saudável".
3º - Agendaram reuniões, assumiram compromissos e planearam tarefas, todas para hoje, mas que ontem já sabiam que não iriam conseguir concretizar na totalidade. "Mas tinha que ser porque o trabalho tem que ser feito e havia coisas muito importantes que estavam atrasadas" dizem. Eu pergunto:"Então e que tal descansar um pouco, o lazer, dormir?..." Eu tenho coisas atrasadas que nem em 5 anos conseguiria alguma vez recuperar.
4º - No meio de tantos afazeres, não houve tempo para conviver com o(s) filho(s). Quanto mais com o marido ou mulher. Muito menos com os amigos. Impossível. O trabalho, o trânsito, os compromissos, as tarefas diárias, o cansaço, stress... tudo isto e muito mais, impede a convivência e a atenção que podemos dispensar. Eu não tenho tempo sempre, e apenas escrever estas linhas agora, é prova disso, mas do tempo que devo dispensar ao meu filho, família e amigos, não abdico.
Então, e no sentido de dar um pouco mais de objectividade a este meu devaneio, o que leva a que eu tenha tido experiências positivas, e outros em circunstâncias idênticas, não? - A perspectiva.
O ser humano, tal como a maioria dos animais, reage a estímulos. O ser humano, tal como a maioria dos animais, cria hábitos.
Quando um estímulo se torna hábito, a sua vertente estimulante diminui. Isto acontece para o melhor e para o pior. Um exemplo de estímulos negativos é o trânsito excessivo das grandes cidades que começa a deixar de aborrecer tanto a quem conduz habitualmente (a menos que fique excepcionalmente caótico). Um exemplo de um estímulo positivo que começa a perder o seu encanto são os encontros amorosos entre um casal. Os primeiros eram fantásticos, mas ao fim de uns anos (ou menos) passam a ser rotina.
O mesmo se passa com tudo. E é aqui que entra a nossa perspectiva e a necessidade de contrariar a nossa natureza.
Enquanto seres inteligentes, podemos mudar muita coisa. E muita coisa resume-se a 3 coisas tão simples:
Esquecer o passado - A velha expressão do "Antigamente é que era bom!" não serve qualquer propósito. Do mesmo modo que "Já fiz tanta asneira!" também não leva a lado algum. O passado é tão somente isso; PASSADO. Não deve condicionar o presente nem as escolhas a fazer. O passado é a história, a experiência, a sabedoria que nos deu o conhecimento para podermos chegar até aqui.
Deixar de imaginar o futuro - "Quando acontecer isto ou se der aquilo é que as coisas ficam bem! Nessa altura é que vou ser feliz...!" é uma expressão que pode parecer optimista. E é! Mas não é nada mais do que isso... é sonhar com algo que não sabemos se alguma vez vai acontecer. "Tenho medo do que possa acontecer!" ou "Não vou conseguir!" também é um disparate que, para além de prejudicar o próprio, contagia negativamente tudo à sua volta. Ninguém conhece o que está para vir. Mas se eu tiver medo e achar que vou falhar, é meio caminho para que isso venha a acontecer.
Viver o presente - cada momento como se fosse o último, em verdade, com sinceridade e amor, para consigo e para com os outros. O presente é a única realidade que existe. O agora é a única experiência positiva que posso sentir verdadeiramente. Então vou ser, agora e aqui, neste preciso momento em que me encontro a redigir estes devaneios mentais, feliz a sentir a experiência positiva que estou a viver. Claro que estou cansado, claro que é tarde, claro que vou dormir pouco, claro que posso dar importância a todos os argumentos válidos para mim e para os outros, de forma a deixar de ser feliz agora.
Mas eu prefiro manter a minha perspectiva. Do mesmo modo que acredito que este devaneio vai fazer sentido para alguém.

3 comentários:

Vedoris disse...

Bem-vindo. Gosto bastante desta temática do saber viver o presente, habitá-lo.

Mafalda disse...

Viva Jorge! Bem vindo à nossa mesa, a uma mesa com tempo para partilhar...adorei o assunto, é preciso falar acerca do tempo, do trabalho, do ócio e fico MUITO FELIZ em saber que há pessoas que apreciam o presente, como eu propria me habituei a apreciar, cada vez mais...até breve

Jorge Marques disse...

Agradeço as boas vindas e fico feliz de saber que de algum modo contribui de forma positiva. Espero continuar com alguma regularidade.
"Viver o presente" parece-me um excelente mote.

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